domingo, 11 de fevereiro de 2018

MINEIRO TROPEIRO NÃO COMPRA MOÇA POR SAL.


Eles saíram da Vila Cachoeira Salvador destino a Juazeiro Bahia de 1819. Mês de Fevereiro saida. Ricardo Mineiro, Felipe, Pingo D’Água e Benedito estes últimos eram baianos. Pingo D’Água era tropeiro e violeiro cantava muito bem, para animar os tropeiros, nos momentos de saudade. Primeira parada Feira da Conceição, seguindo o ritual de arriar a tropa fazer comida tornar a arribar. Passaram por Rio do Peixe e foram descansar em Feira de Santana. Fazenda São José, saíram a procurar água, só encontrando uma água barrenta e salobra. Assim foi nas paradas de Formigas, Santa Barbara e Gravatá.
Na fazenda Umbaúba teve de comprar água que nem boa era, mas deu para matar um pouco à sede. Em Jenipapo seus homens invadiram uma casinha de um velho cego. Pegando toda água cheia de bichos água sem filtragem. O filho deste velho pegava água distante uma légua e meia.
Em Rio do Peixe um tropeiro quase morre de um tiro de um morador, viajantes não eram bem vistas, muitos mexiam com as mulheres dos sertanejos e queriam água, coisa preciosa no sertão.
Rodearam a serra Itiúba até Santo Antônio das Queimadas. Lá param em uma tapera de um senhor que já tinha sido mais ou menos rico tinha animais e roça. Mas uma seca terrível deixou essa família na miséria. Raimundo Alves, Maria Rosa e quatros filhos três moças e um menino.

Estes quando viram a tropa ficaram animados, podiam receber alguma esmola e fazer uma troca, um tanto esquisita, que vou cantar em detalhes.
Ricardo Mineiro deitado em uma rede puxou conversa com Raimundo. De onde vinha e para onde ia. Maria que tinha mais disposição falou se o Ricardo Mineiro, queria trocar Maria sua filha mais velha, que apesar da miséria, ainda tinha uma certa beleza; por um salaminho, um quilo de sal. Estavam comendo raízes sem sal a muito tempo.
 Ricardo ficou perturbado com tanta fome e desgraça. Mandou um de seus homens pegar o sal e mais um pedaço de carne e farinha, para esta família comer pelo menos uns três dias. Não podia fazer mais, não era governante. Maria soltou umas duas lágrimas de seus belos olhos negros. As outras irmãs se retiram com vergonha de seus trapos, Maria a vendida ficou ali vendo o que Ricardo ia fazer. Para ela seria melhor acompanha-lo, pelo menos iria comer.
Mas Ricardo, um homem de bom coração, falou que ela poderia ficar, gente não se vende, nem se compra.
Seguiu viagem pensando naquilo. Quanta beleza vivenda em extrema miséria. Pensava como Deus permitia uma coisa dessa. Mesmo assim não perdia sua fé.
Na próxima para viu um homem enterrando um filho que morreu de fome. Conversou com o homem que lhe disse: “isso amigo é fome, acho que Deus esqueceu desta terra”. Foi repreendido pela mulher que mandou não blasfemar. João o homem que enterrava o filho passou a narrar à vida daquela gente. Disse que ouviu falar que seu Raimundo Alves, onde ele tinha feito parada, já havia matado dois filhos. 
Ricardo tomou um tranco! Como poderia uma coisa dessa. Pensou por que eles que só quiseram sal? Poderia matam Maria. Pensou... eu poderia casar-me com ela, afinal era solteiro. Tê-la como amante não, porque era católico praticante, e o que fez, ficava só seu gesto de amor ao próximo.
Chegando ao destino Juazeiro Bahia, entregou a mercadoria vendeu os animais, pagou os tropeiros, deixando só o s aniamso de montaria. De lá foi para sua Minas Gerais, Janaúba, onde não tinha tanta miséria quanto no sertão baiano.
Crônica da caminha das tropas no sertão baiano ano 1819.

Contou, NHOZINHO XV

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

TEXTO SÓ COM VERBOS

LAMPIÃO FAZ UM CABRA COMER SAL.

QUAL MAIS RICO O REI DO CAFÉ OU DO GADO?