PEÕES OBRA NORDESTINOS NA ESCOLA.
Quando é época de eleição todos os candidatos falam em educação
com qualidade. Mas essa escola de qualidade, só para os filhos deles, amigos e empresários.
Escola pública, quando funciona; na maioria, ensina mais o que o aluno pouco
vai usar em sua vida. Posto isso, vou falar de um fato pitoresco e hilário que presenciei,
ou melhor, fui personagem; em uma obra em São Paulo. Empresas não querem gente
pensante que questiona, mas que pelo menos leia avisos e disciplina interna.
Estávamos eu e muitos peões de todos Nordeste, na obra no
metrô em 1973 primeiro Metrô Jabaquara a Tucuruvi, Linha Norte Sul.
A professora era dona Vera, muito paciente, e competente
mestra. Primeiro dia de aula nós todos de caderninhos, na mesa improvisada no
canteiro de obra, todos radiantes e com sede do saber. Vera pergunta a um peão o
baiano quem foi à mãe de Ruy Barbosa:
Baiano:
— Acho era Babosa responde o rapaz de São Salvador. Vera fica
espantada, mas responde que foi Maria Adélia Barbosa.
Vera: pergunta a mim quem nasce no Piauí respondi como se chama :“Pionso”. A
professora já sentiu que estava com uns ignorantes, mas seguiu.
Vera:
—Que o engenheiro faz sua Paraíba?
— “Faiz” rapadura ‘fresora’.
— Porque homem? —dona
Vera não vem de engenho, justifica o rapaz.
Vera:
—Ceará o que faz um médico?
—Ceará: “faiz” medição...
Vera já estava extasiada, mas segue com os pobres nordestinos,
todos de macacões verdes e limpos.
Vera:
—Seu do Maranhão quem nasce no seu Estado como se chama? “Fersora”
acho que é baia que vem de lagarta.
Dona Vera deixou de fazer um teste do que seus alunos sabiam
e encerrou por aquele dia, da primeira aula. Mas a mulher, filha de nordestinos
foi para casa arrasada, com tantos jovens até bonitos, mas tão ignorantes. Porém,
não desistiu, continuo na escola. Vera foi vendo que os nordestinos são inteligentes
e esforçados, isso já animava a mestra. Com muitos anos encontrei dona Vera aposentada,
ela me falou que sentia sede do saber em nós peões de obra.
São coisas que quando lembro de minha vida, conto mesmo!
ADÃO NHOZINHO
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